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Este blog foi desenvolvido por alunos da faculdade de Letras.
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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Biografia

(Copacabana, RJ)

Nome: Nelson Rodrigues
Filiação: Mário Rodrigues (jornalista)
e Maria Esther Falcão (do lar)
Data Nascimento: 23/08/1912
Naturalidade: Recife – PE
Data de Falecimento: 21/12/1980

Em Dezembro de 1929, aos 17 anos, Nelson viu e ouviu o assassinato de seu irmão Roberto, dentro do jornal Crítica, após ter publicado a notícia do desquite de Sylvia e José Thibau Jr., Sylvia entrou na redação do jornal procurando pelo Mário Rodrigues, não o encontrando, pediu para falar com Roberto, e deu um tiro no estômago dele; sessenta e sete dias após a morte do irmão Roberto, falece também seu pai, de trombose cerebral, decide a família então mudar-se para tentar escapar de tanta tristeza que os rondava ultimamente.

Em janeiro de 1943, escreve sua segunda peça Vestido de noiva, mas não consegue encená-la, apesar de ter ótima crítica, foi através de Thomaz Santa Rosa, um conterrâneo ex-funcionário do Banco do Brasil, que Nelson conhece o ator e diretor polonês Zbigniew Ziembinski, que se interessou em encenar a peça, pois jamais tinha visto algo semelhante em todo o mundo teatral.

1958- Estréia a peça Os Sete Gatinhos, que tinha no elenco seu cunhado Jece Valadão.

A Serpente sua última grande peça, foi escrita em 1979, quando seu filho Nelsinho junto com outros companheiros faz greve de fome na prisão, eles foram os últimos presos políticos cariocas; Nelsinho teve autorização para sair da prisão no dia do aniversário do autor, apenas para ver o nascimento de sua filha Cristiana, quando finalmente ganhou sua liberdade e foi ver o pai, já era tarde, Nelson estava em estado de coma no hospital, não reconhecia mais ninguém.

Na manhã de 21 de dezembro de 1980, Nelson falece no Hospital pro - cardíaco, dois meses depois de seu falecimento, Elza (com quem estava junto novamente fazia algum tempo), cumpriu um pedido do autor ainda em vida, que gravasse seu nome ao lado do dele na lápide com a seguinte inscrição: “Unidos para além da vida e da morte. É só".


sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Nelson Rodrigues por Sábato Magaldi

Resenha crítica da introdução do livro 1 Teatro Completo de Nelson Rodrigues, por:
MAGALDI Sábato, Teatro Completo de Nelson Rodrigues
Editora Nova Fronteira, 1981, 331 p.
Dados do autor: Sabato Antônio Magaldi (Belo Horizonte MG 1927) teórico, critico e professor. Pertence ao primeiro escalão intelectual brasileiro, influente pesquisador ligado a momentos decisivos da história do teatro brasileiro.

O autor inicia a introdução com a questão de qual o critério a ser adotado em seu livro e sem dúvida ele escolhe o critério cronológico, já que esse trará melhor compreensão para o leitor dos termos e procedimentos dramáticos e melhor entendimento da evolução da obra em quase quarenta anos de fatura.

Aponta: " Nelson passou, sem rigidez, por alguma fases que poderiam ser o ponto de partida para análise e extenso agrupamento das obras".

Comenta a obra: " A Mulher Sem Pecado, onde a personagem Olegário atua sob grau da tensão e está prestes a romper a censura do inconsciente".

Em " Vestido de Noiva", "Álbum de Família ", "Anjo Negro e Dorotéia". O monólogo "Valsa nº 6", " A Falecida", " Senhora dos Aleijados".

Nelson mostra um compromisso com a realidade e o mundo interior. Fecha o ciclo mítico e abre uma nova fase da dramaturgia rodrigeana.

A partir daí Nelson começa a fase de Tragédia Cariocas de cortumes, com uma pitada de comédia com ampla tradição no teatro brasileiro.

O lado psicológico, a comédia e o misticismo estão sempre presentes nas obra de Nelson Rodrigues, daí a dificuldade de agrupá-las nesta ordem.

Nos quatro volumes do teatro completo de Nelson Rodrigues foram obedecidos os critérios cronológicos dividindo as peças em psicológicas, míticas e tragédias cariocas.

O autor comenta ainda que Nelson Rodrigues desde menino tendia ao romance e foi o desejo de ganhar dinheiro que o levou a dramaturgia – o que é pouco provável se não houvesse talento. Era alguém dotado de um fôlego para o diálogo e a personalidade é o que induziu ao teatro. Usando o suspense, falsas pistas, surpresas finais. Nelson trazia em seus textos os desejos tradicionais do folhetim desejando sempre o desfecho para a próxima cena.

Em a “Vida como ela É” Nelson trás o poder da síntese e da força literária também compraz-se com trechos ralos, de cuja aparente fragilidade extrai sugestões poderosas.

Alguns personagens ao serem avaliados carregam um peso de obsessão como “Olegário” forçando uma comparação com heróis shakspeariano entre outros.

Esse qualitativo mórbido, irónico e feroz da personagem carrega a obviedade do texto, trazendo a melhor compreensão da personagem para o público leitor.

O autor na pág. 11/12 fala sobre as pesquisar formais do dramaturgo expondo como eram e como ainda são as apresentações cênicas.

Nelson mostra-nos que o plano real coordena a ação que indica o tempo cronológico através de “flashes” - Os diálogos e situações ecoam por planos da memória e da alucinação não obedecendo a fronteira da peça.

A tenacidade das fronteira entre o plano de memória e a alucinação contidos na peça teatral “Vestido de Noiva” nos leva a ter uma idéia da liberdade tomada pelo dramaturgo, a ironia feroz, o grotesco e a imagem cruel da realidade reforça a colocação de seus pontos de vista.
Nelson utiliza esse recursos para qualificar pejorativemente a realidade.

O êxito de “Vestido de Noiva” inspirou a Nelson Rodrigues todas as audácias do confessar:
“Vestido de Noiva” teve o tipo de sucesso que cretiniza um autor.

Com: Álbum de Família (1945) o dramturgo ingressou no território mítico – (inconsciente primitivo). Em Valsa nº 6 o mundo é sintetizado em um monólogo onde a atriz é quem dá vida a sua personagem no caso Sônia Braga, é como se "Valsa nº 6" fosse “Vestido de Noiva” às avessas. É um monólogo absolutamente teatral. A peça repousa na palavra, não precisa de acessório de palco. O texto respira matéria frágil que se confunde com o poético. “As lembranças chegam a mim sempre em pedaços”. “Eu não saio daqui sem saber quem sou e como sou”. É nítida a analogia com “Vestido de Noiva”.

Nelson em seu itinerário nunca foi pacífico. A ousadia artística, o gosto pela provocação, o senso de publicidade, o desafio à crítica, além do sarcasmo que destilava pela imprensa contra os opositores era o que fazia Nelson ser o Nelson Rodrigues ele usava suas maneiras específicas para vingar-se. Sendo assim nada melhor do que palco.

Depois de “Toda a Nudez Será Castigada” na décima quinta peça. Nelson interrompeu durante quase dez anos a produção dramática. Atribuindo o silêncio à escravidão profissional, para sobreviver trabalhava em jornais, e sua saúde andava precária, teve vários enfartes, cirurgias e isso exigia dele uma vida mais regrada.

Afirma o autor que Nelson Rodrigues somente escreveu “Anti Nelson Rodrigues” para se livrar do cerco da atriz Neila Tavares que por seis meses a ele pedia o original.

Esse título causa estranheza, mas por vários aspectos Nelson explica que considera o título um “charme irônico” pela peça ser mais Nelson do que nunca.

É um texto de amargura, verdade e compaixão, quase insuportável – segundo Nelson Rodrigues – de dilacerante piedade que em outras peças não está presente. Diz Nelson “ Nunca tive tanta pena dos meus personagens”

“Anti-Nelson” apresenta a promessa de amor eterno. Nelson confessa aos 61 anos de idade que a pior forma de adultério é da viúva que se casa novamente”. Cheio de nostalgia de amor eterno, o “Anti-Nelson” é mais Nelson Rodrigues que todas a peça anteriores. A visão da realidade sempre brutal e ignomimosa não permitiria o dramaturgo dar a peça um final feliz.

A intimidade com o palco e as personagens faz com que Nelson Rodrigues tenha o poder de misturar o cômico e o trágico, o drama e o humorístico nos mostrando um Nelson que parece brincar com seus próprios problemas e o autor comenta que parece que a peça representava um preparo par a anunciada autobiografia em nove atos cujo projeto não chegou a ser concretizado.






Resenha Crítica

Sábato Magaldi foi escolhido por Nelson Rodrigues para a organização e publicação de suas obras.
Na introdução da 1ª Edição da Coletânia do Teatro Completo de Nelson Rodrigues, Magaldi explica sua subta dificuldade em ordenar as 17 obras, considerando a amplitude de estilo e direções.
A dificuldade veio de encontro justamente a controvérsias na classificação das peças. Observando como exemplo a peça "vestido de noiva" que embora tenha sido classificada com planos diferentes (o real, a memória, a alucinação) e encaixada nas peças psicológicas, não vemos diferença entre alucinação e passado, entre memória e lembrança, o que nos leva a crer que melhor seria classificá-la como drama. Tomando como explicação que as duas irmãs brigam por Pedro, há um moralismo presente na peça, pois a heroína Lúcia, que vence por ter visto Pedro primeiro e a irmã paga com a vida por roubar o marido da outra. Assim podemos considerar como sendo uma falha técnica do autor essa classificação.

Comentário da Peça Vestido de Noiva

“(...) Buzina de automóvel. Rumor de derrapagem violenta. Som de vidraças partidas. Silencio. Assistência. Silencio”.(p. 109)


Assim tem início a peça Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues; que estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 28 de Dezembro de 1943, com direção de Ziembinski e encenação do grupo amador “Os comediantes”.

Vestido de Noiva faz parte das peças psicológicas do Teatro Completo de Nelson Rodrigues, com a organização e introdução de Sábato Magaldi pela editora Nova Fronteira, 11ª edição, 1981, p. 105 – 167.

A peça é composta por 23 personagens e 3 atos. O cenário é dividido em três planos que o autor denomina: alucinação, memória e realidade. A peça rompe com a ordem cronológica, sendo os espaços e tempos marcados psicológicos. Nesta peça, Nelson Rodrigues revela uma classe média carioca, onde predomina a hipocrisia.

Vestido de Noiva que deveria simbolizar a união do casal torna-se cenário do triângulo amoroso entre Alaíde, uma mulher insatisfeita e inconformada com a condição feminina; Lucia, irmã de Alaíde, também insatisfeita, que vive atormentada pelo sentimento de ser passada para trás pela irmã (Lúcia aparece em quase toda a peça como a “mulher de véu”) e

Pedro que namora Lúcia e deixa seduzir-se por Alaíde, com quem se casa pela primeira vez e planeja com Lúcia eliminar Alaíde.

Os sons ouvidos no início da peça referem-se ao atropelamento de Alaíde, moça rica da sociedade carioca, casada com o industrial Pedro. Após discussão com a irmã sai atormentada pela rua e é atropelada por um automóvel sendo posteriormente levada em estado de choque para um hospital, onde é submetida uma operação de urgência.

A peça transita entre realidade, memória e alucinação sendo que os dois últimos às vezes se confundem na mente atormentada de Alaíde.

No plano realidade, os jornalistas informam sobre o acidente e o esforço dos médicos para salvar a vida de Alaíde, e em seguida anunciam a sua morte.

No plano da alucinação Alaíde liberta seus desejos e encontra Madame Clessi (símbolo da libertação feminina), prostituta que fora assassinada pelo namorado adolescente com uma navalhada. Alaíde em seus delírios revela à madame Clessi que assassinou seu marido Pedro com um ferro após discussão. O assassinato não passa de um desejo reprimido por Alaíde. Ainda no plano da alucinação é revelado que Alaíde encontra e resgata o diário de madame Clessi, que havia residido na casa em que moravam seus pais, pois os mesmos decidem incinerar os pertences da cafetina que estavam no sótão da casa.

No plano da memória, Alaíde tenta ordenar sua memória na reconstrução dos fatos ocorridos em seu casamento e obtém ajuda de madame Clessi.

O desfecho da peça apresenta-se da seguinte forma:

“ (...) (Luz no plano da realidade: pai e mar de Lúcia, esta e D. Laura. Lúcia chega de viagem.)

LÚCIA – Mãe! Quantas saudades!

PAI- Eu não mereço.

LÚCIA – Papai!

MÃE – Está tão mais gorda, corada – não é, Gastão?

PAI – Muito mais.

D.LAURA – Depois, quando a gente tira o luto, é outra coisa!

LÚCIA – Ah! D. Laura! Nem tinha visto a señora!

(Saem D. Laura e mar de Lúcia.)

PAI (confidencial) – Já resolveu?

LÚCIA – O que o senhor acha, papai?

PAI - Isso é com você, minha filha; você quem tem que decidir.

(Trevas. Luz sobre Alaíde e Clessi, poéticos fantasmas. Iluminam-se as suas divisões extremas do planos da realidade. À direita do publico, sepultura de Alaíde. À esquerda, Lúcia, vestida de noiva, prepara-se no espelho. Arranjo da marcha Nupcial e da Marcha Fúnebre.)

LÚCIA – Aperta bem, mamãe.

D. LÍGIA – Está muito folgado aqui!

LÚCIA – Será que Pedro já chegou?

MÃE – D. Laura aparece, quando ele chegar.

LÚCIA (retocando qualquer coisa ao espelho) – Eu só quero que ele me veja lá na igreja.

(Entra D. Laura.)

D. Laura – Pode-se ver a noiva?

LÚCIA – Ah! D. Laura!

(Beijam-se)

D.Laura (para a mãe) – A senhora deve estar muito atrapalhada!

MAE – Nem faz idéia!

LÚCIA (com dengue) – Estou muito feira, D. Laura ?

D. Laura – Linda! Um amor!

LÚCIA (estendendo os braços) – O bouquet.

(Crescendo da música, funeral e festiva. Quando Lúcia pede o bouquet, Alaíde, como um fastasma, avança em direção da irmã, por uma das escadas laterais, numa atitude de quem vai entregar o bouquet. Clessi sobe a outra escada. Uma luz vertical acompanha Alaíde e Clessi. Todos imóveis em pleno gesto. Apaga-se, então, toda a cena, só ficando iluminado, sob a luz lunar, o túmulo de Alaíde. Crescendo da marcha fúnebre. Trevas)”. (p. 166 – 167)

******** FIM DO TERCEIRO ATO ********

“ (...)Seria mais adequado dizer que o teatro, com espetáculo à maneira de outras artes modernas, e Nelson Rodrigues para o palco o que trouxeram Vila Lobos para a música, Portinari para a pintura, Niemeyer para a arquitetura e Carlos Drummond de Andrade apara a poesia. O certo é que a estréia de Vestido de Noiva fez que o teatro brasileira perdesse o complexo de inferioridade.” (p. 21)

(Sábato Magaldi)