Resenha crítica da introdução do livro 1 Teatro Completo de Nelson Rodrigues, por:
MAGALDI Sábato, Teatro Completo de Nelson Rodrigues
Editora Nova Fronteira, 1981, 331 p.
Dados do autor: Sabato Antônio Magaldi (Belo Horizonte MG 1927) teórico, critico e professor. Pertence ao primeiro escalão intelectual brasileiro, influente pesquisador ligado a momentos decisivos da história do teatro brasileiro.
O autor inicia a introdução com a questão de qual o critério a ser adotado em seu livro e sem dúvida ele escolhe o critério cronológico, já que esse trará melhor compreensão para o leitor dos termos e procedimentos dramáticos e melhor entendimento da evolução da obra em quase quarenta anos de fatura.
Aponta: " Nelson passou, sem rigidez, por alguma fases que poderiam ser o ponto de partida para análise e extenso agrupamento das obras".
Comenta a obra: " A Mulher Sem Pecado, onde a personagem Olegário atua sob grau da tensão e está prestes a romper a censura do inconsciente".
Em " Vestido de Noiva", "Álbum de Família ", "Anjo Negro e Dorotéia". O monólogo "Valsa nº 6", " A Falecida", " Senhora dos Aleijados".
Nelson mostra um compromisso com a realidade e o mundo interior. Fecha o ciclo mítico e abre uma nova fase da dramaturgia rodrigeana.
A partir daí Nelson começa a fase de Tragédia Cariocas de cortumes, com uma pitada de comédia com ampla tradição no teatro brasileiro.
O lado psicológico, a comédia e o misticismo estão sempre presentes nas obra de Nelson Rodrigues, daí a dificuldade de agrupá-las nesta ordem.
Nos quatro volumes do teatro completo de Nelson Rodrigues foram obedecidos os critérios cronológicos dividindo as peças em psicológicas, míticas e tragédias cariocas.
O autor comenta ainda que Nelson Rodrigues desde menino tendia ao romance e foi o desejo de ganhar dinheiro que o levou a dramaturgia – o que é pouco provável se não houvesse talento. Era alguém dotado de um fôlego para o diálogo e a personalidade é o que induziu ao teatro. Usando o suspense, falsas pistas, surpresas finais. Nelson trazia em seus textos os desejos tradicionais do folhetim desejando sempre o desfecho para a próxima cena.
Em a “Vida como ela É” Nelson trás o poder da síntese e da força literária também compraz-se com trechos ralos, de cuja aparente fragilidade extrai sugestões poderosas.
Alguns personagens ao serem avaliados carregam um peso de obsessão como “Olegário” forçando uma comparação com heróis shakspeariano entre outros.
Esse qualitativo mórbido, irónico e feroz da personagem carrega a obviedade do texto, trazendo a melhor compreensão da personagem para o público leitor.
O autor na pág. 11/12 fala sobre as pesquisar formais do dramaturgo expondo como eram e como ainda são as apresentações cênicas.
Nelson mostra-nos que o plano real coordena a ação que indica o tempo cronológico através de “flashes” - Os diálogos e situações ecoam por planos da memória e da alucinação não obedecendo a fronteira da peça.
A tenacidade das fronteira entre o plano de memória e a alucinação contidos na peça teatral “Vestido de Noiva” nos leva a ter uma idéia da liberdade tomada pelo dramaturgo, a ironia feroz, o grotesco e a imagem cruel da realidade reforça a colocação de seus pontos de vista.
Nelson utiliza esse recursos para qualificar pejorativemente a realidade.
O êxito de “Vestido de Noiva” inspirou a Nelson Rodrigues todas as audácias do confessar:
“Vestido de Noiva” teve o tipo de sucesso que cretiniza um autor.
Com: Álbum de Família (1945) o dramturgo ingressou no território mítico – (inconsciente primitivo). Em Valsa nº 6 o mundo é sintetizado em um monólogo onde a atriz é quem dá vida a sua personagem no caso Sônia Braga, é como se "Valsa nº 6" fosse “Vestido de Noiva” às avessas. É um monólogo absolutamente teatral. A peça repousa na palavra, não precisa de acessório de palco. O texto respira matéria frágil que se confunde com o poético. “As lembranças chegam a mim sempre em pedaços”. “Eu não saio daqui sem saber quem sou e como sou”. É nítida a analogia com “Vestido de Noiva”.
Nelson em seu itinerário nunca foi pacífico. A ousadia artística, o gosto pela provocação, o senso de publicidade, o desafio à crítica, além do sarcasmo que destilava pela imprensa contra os opositores era o que fazia Nelson ser o Nelson Rodrigues ele usava suas maneiras específicas para vingar-se. Sendo assim nada melhor do que palco.
Depois de “Toda a Nudez Será Castigada” na décima quinta peça. Nelson interrompeu durante quase dez anos a produção dramática. Atribuindo o silêncio à escravidão profissional, para sobreviver trabalhava em jornais, e sua saúde andava precária, teve vários enfartes, cirurgias e isso exigia dele uma vida mais regrada.
Afirma o autor que Nelson Rodrigues somente escreveu “Anti Nelson Rodrigues” para se livrar do cerco da atriz Neila Tavares que por seis meses a ele pedia o original.
Esse título causa estranheza, mas por vários aspectos Nelson explica que considera o título um “charme irônico” pela peça ser mais Nelson do que nunca.
É um texto de amargura, verdade e compaixão, quase insuportável – segundo Nelson Rodrigues – de dilacerante piedade que em outras peças não está presente. Diz Nelson “ Nunca tive tanta pena dos meus personagens”
“Anti-Nelson” apresenta a promessa de amor eterno. Nelson confessa aos 61 anos de idade que a pior forma de adultério é da viúva que se casa novamente”. Cheio de nostalgia de amor eterno, o “Anti-Nelson” é mais Nelson Rodrigues que todas a peça anteriores. A visão da realidade sempre brutal e ignomimosa não permitiria o dramaturgo dar a peça um final feliz.
A intimidade com o palco e as personagens faz com que Nelson Rodrigues tenha o poder de misturar o cômico e o trágico, o drama e o humorístico nos mostrando um Nelson que parece brincar com seus próprios problemas e o autor comenta que parece que a peça representava um preparo par a anunciada autobiografia em nove atos cujo projeto não chegou a ser concretizado.